A intolerância à lactose – conhecida no meio médico com hipolactasia é uma condição bastante comum, afetando entre 65% e 75% da população mundial. Essa dificuldade em digerir a lactose, o açúcar presente no leite e seus derivados, ocorre com maior frequência em adultos e sua prevalência varia de acordo com fatores como localização geográfica e raça.
No Brasil, cerca de 40% da população apresenta hipolactasia do tipo adulto, que se manifesta após os três anos de idade. Em regiões da Ásia e da África, essa taxa é ainda maior, alcançando aproximadamente 45% da população. Apesar de ser uma condição amplamente difundida, apenas 2% dos indivíduos intolerantes à lactose sofrem com sintomas graves.
Felizmente, a intolerância à lactose pode ser gerenciada de maneira eficaz por meio de ajustes na alimentação e, em alguns casos, com o uso de suplementos de lactase. Neste artigo, exploramos mais sobre essa condição, seus sintomas, formas de diagnóstico e estratégias para manter uma alimentação equilibrada sem abrir mão da qualidade de vida.
O Que É e Causas da Intolerância à lactose (hipolactasia)
A intolerância à lactose é uma condição em que o corpo, mais especificamente o intestino delgado não produz ou produz de forma insuficiente a enzima lactase e dessa forma, não consegue digerir adequadamente a lactose, um tipo de açúcar encontrado no leite e em outros produtos lácteos, causando os sintomas característicos da hipoplactasia.
A lactose é composta por duas moléculas de açúcar: a glicose e a galactose. Para que a lactose seja digerida, é necessário que a enzima lactase esteja presente no intestino delgado. A lactase quebra a lactose em glicose e galactose, que podem ser então absorvidas pelo corpo.
A intolerância à lactose ocorre quando o corpo não produz lactase em quantidade suficiente para digerir a lactose. Isso pode acontecer por várias razões:
Genética: A maioria das pessoas que são intolerantes à lactose têm uma variante genética que afeta a produção de lactase. Muito rara, impede o aleitamento materno exclusivo e manifesta-se logo após o nascimento. O recém-nascido tem que ser alimentado com uma fórmula, um leite modificado para lactentes sem lactose. este tipo é classificado como hipolactasia genética ou primária
Idade: A produção de lactase diminui naturalmente com a idade. Em bebês, a lactase é produzida em grande quantidade para permitir a digestão do leite materno. À medida que a criança cresce, a produção de lactase diminui.
Após os 3 anos de idade, a produção intestinal de lactase começa a diminuir progressivamente. No Brasil, estima-se que 40% das pessoas apresentam hipolactasia do “tipo adulto” que é assim classificada à partir do momento da apresentação de sintomas de intolerância à lactose
Doenças gastrintestinais: Algumas doenças, como a doença de Crohn ou a colite ulcerativa e ou cirurgias que promovam a remoção de parte do intestino delgado pode afetar a produção de lactase, podem danificar o revestimento do intestino delgado e afetar a produção de lactase. Dessa forma, são classificadas como intolerância ou hipolactasia secundária à lactose.
Sinais e sintomas causados pela Intolerância à Lactose
A intolerância à lactose pode causar uma variedade de sintomas em diferentes faixas etárias. Aqui estão os sinais e sintomas mais comuns da intolerância à lactose, distribuídos por faixas etárias:
Crianças (0-12 anos)
A intolerância à lactose não corretamente tratada em crianças pode causar prejuízos significativos ao seu organismo em desenvolvimento. Aqui estão alguns dos principais prejuízos:
Desenvolvimento e Crescimento
Retardo no crescimento: A falta de nutrientes essenciais, como cálcio e vitamina D, pode afetar o crescimento e desenvolvimento da criança.
Desenvolvimento ósseo deficiente: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode levar a uma redução na densidade óssea, aumentando o risco de osteoporose e fraturas.
Desenvolvimento muscular deficiente: A falta de nutrientes essenciais pode afetar o desenvolvimento muscular da criança.
Relação entre intolerância à lactose e raquitismo:
O raquitismo é uma doença óssea que afeta crianças e é causada pela falta de vitamina D, cálcio e/ou fósforo. Em crianças com intolerância à lactose, o raquitismo pode ser uma complicação grave.
Como Acontece:
Redução na ingestão de cálcio: A intolerância à lactose pode levar a uma redução na ingestão de cálcio, pois as crianças podem evitar produtos lácteos que são ricos em cálcio.
Redução na absorção de cálcio: A lactose é um açúcar que ajuda a absorver o cálcio. Sem a lactase, a lactose não é digerida e o cálcio não é absorvido.
Redução na absorção de vitamina D: A vitamina D é essencial para a absorção de cálcio. A vitamina D ingerida é absorvida no intestino delgado, especificamente na região do duodeno e jejuno. Na intolerância à lactose pode levar a uma redução na absorção de vitamina D devido ao quadro dissabsortivo causado pela condição.
Os sintomas do raquitismo em crianças com intolerância à lactose podem incluir:
Dor óssea: A dor óssea é um sintoma comum do raquitismo.
Deformidades ósseas: As deformidades ósseas, como pernas arqueadas ou braços curvados e outras deformidades dos dentes e coluna vertebral.
Outros Problemas de Saúde
Diarreia crônica: A intolerância à lactose pode causar diarreia crônica, levando a desidratação e perda de nutrientes.
Infecções gastrointestinais: A diarreia crônica pode aumentar o risco de infecções gastrointestinais.
Anemia: A falta de ferro pode levar a anemia, causando fadiga, cansaço e problemas de concentração.
Problemas de saúde mental: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Problemas de Desenvolvimento Cognitivo
Problemas de concentração: A falta de nutrientes essenciais pode afetar a concentração e atenção da criança.
Problemas de aprendizado: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode afetar o desenvolvimento cognitivo da criança, levando a problemas de aprendizado.
Problemas de memória: A falta de nutrientes essenciais pode afetar a memória e capacidade de aprendizado da criança.
Outros Prejuízos à Saúde em Geral
Redução da qualidade de vida: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode afetar significativamente a qualidade de vida da criança, limitando suas atividades diárias e sociais.
Aumento do risco de doenças crônicas: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode aumentar o risco de desenvolver doenças crônicas, como doenças cardíacas, diabetes e obesidade.
Fraqueza muscular: A fraqueza muscular é um sintoma comum do raquitismo.
Desenvolvimento lento: O desenvolvimento lento é um sintoma comum do raquitismo.
Adultos (18-64 anos)
A intolerância à lactose não corretamente tratada pode causar prejuízos significativos ao organismo do adulto. Aqui estão alguns dos principais prejuízos:
Desidratação: A diarreia crônica pode levar à desidratação, especialmente se não for tratada adequadamente.
Perda de nutrientes: A intolerância à lactose pode levar a uma redução na absorção de nutrientes essenciais, como cálcio, vitamina D e proteínas.
Osteoporose: A falta de cálcio e vitamina D pode contribuir para o desenvolvimento de osteoporose, uma doença que afeta a densidade óssea.
Anemia: A intolerância à lactose pode levar a uma redução na absorção de ferro, o que pode contribuir para o desenvolvimento de anemia.
Problemas gastrointestinais: A intolerância à lactose pode causar problemas gastrointestinais crônicos, como dor abdominal, flatulência e diarreia.
Fadiga e cansaço: A falta de nutrientes essenciais pode levar a uma sensação de fadiga e cansaço crônico.
Problemas de saúde mental: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode contribuir para o desenvolvimento de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade.
Redução da qualidade de vida: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode afetar significativamente a qualidade de vida do adulto, limitando suas atividades diárias e sociais.
Aumento do risco de doenças crônicas: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode aumentar o risco de desenvolver doenças crônicas, como doenças cardíacas, diabetes e obesidade.
Redução da expectativa de vida: Em casos graves, a intolerância à lactose não corretamente tratada pode reduzir a expectativa de vida do adulto.
Idosos (65 anos ou mais)
A intolerância à lactose não corretamente tratada em idosos pode causar prejuízos significativos ao seu organismo, especialmente devido à redução da capacidade de absorção de nutrientes essenciais. Aqui estão alguns dos principais prejuízos:
Prejuízos ao Organismo do Idoso
Desenvolvimento e Progressão de Doenças Crônicas
Osteoporose: A falta de cálcio e vitamina D pode contribuir para o desenvolvimento de osteoporose, aumentando o risco de fraturas.
Doenças cardíacas: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode aumentar o risco de desenvolver doenças cardíacas, como hipertensão e infarto.
Diabetes: A falta de nutrientes essenciais pode contribuir para o desenvolvimento de diabetes tipo 2.
Outros Problemas de Saúde
Diarreia crônica: A intolerância à lactose pode causar diarreia crônica, levando a desidratação e perda de nutrientes.
Infecções gastrointestinais: A diarreia crônica pode aumentar o risco de infecções gastrointestinais.
Anemia: A falta de ferro pode levar a anemia, causando fadiga, cansaço e problemas de concentração.
Problemas de Saúde Mental
Depressão: A intolerância à lactose não corretamente tratada pode contribuir para o desenvolvimento de depressão.
Ansiedade: A falta de nutrientes essenciais pode contribuir para o desenvolvimento de ansiedade.
Diagnóstico da Intolerância à Lactose
O diagnóstico da intolerância à lactose pode ser realizado de diferentes maneiras, dependendo da idade do paciente. Aqui estão as principais formas de diagnóstico da intolerância à lactose em lactentes, crianças e adultos:
Lactentes (0-12 meses)
Histórico clínico: O pediatra pode suspeitar de intolerância à lactose com base nos sintomas apresentados, como diarreia, vômitos, dor abdominal e flatulência.
O “Teste da Bochechinha” é um método simples e não invasivo para diagnosticar a intolerância à lactose em lactentes e crianças pequenas. O teste também é conhecido como “Teste da Bochecha” ou “Teste da Lactose na Bochecha”.
O lactente ou a criança pequena é solicitado a sugar uma solução que contém lactose e observa-se a criança clinicamente:
- Se a criança é capaz de digerir a lactose, ela não apresentará sinais de desconforto.
- Se a criança é intolerante à lactose, ela apresentará sinais de desconforto devido à fermentação da lactose no intestino. Os sinais à serem observados são: – Choro, Agitação, Dor abdominal, Flatulência e Diarreia.
Teste de redução de lactose: O teste consiste em coletar uma amostra de fezes do paciente e adicioná-la a uma solução que contém lactose. Em seguida, a mistura é incubada por um período de tempo determinado, geralmente algumas horas. Se a quantidade de ácido lático for baixa, isso pode indicar que o paciente tem dificuldade em digerir a lactose, o que pode ser um indicativo de intolerância à lactose.
Teste de hidrogênio: É uma ferramenta útil para diagnosticar a intolerância à lactose, especialmente em pacientes que apresentam sintomas vagos ou inconsistentes.Um teste de hidrogênio pode ser realizado para verificar se o lactente está produzindo hidrogênio em excesso, o que pode indicar intolerância à lactose. O teste consiste em medir a quantidade de hidrogênio presente no ar expirado pelo paciente após a ingestão de uma solução que contém lactose.
Realização do teste do hidrogênio
O paciente ingere uma solução que contém lactose (geralmente 50-100 gramas). Ele é então conectado a um dispositivo que mede a quantidade de hidrogênio presente no ar expirado. Ele é solicitado a expirar profundamente em um tubo conectado ao dispositivo de medição. A quantidade de hidrogênio presente no ar expirado é medida em intervalos regulares (geralmente a cada 30 minutos) durante um período de 2-3 horas.
Crianças (1-12 anos) e Adultos
Além do histórico clínico, podem ser realizados os mesmos testes realizados para o lactente, sendo acrescentado ainda o Teste genético.
O teste genético para a intolerância à lactose é um procedimento que visa identificar a presença de variantes genéticas associadas à intolerância à lactose. Aqui está uma descrição detalhada do teste:
Objetivo do teste
O objetivo do teste genético é identificar a presença de variantes genéticas que afetam a produção da enzima lactase, responsável pela digestão da lactose.
Tipos de variantes genéticas
As variantes genéticas associadas à intolerância à lactose são geralmente encontradas no gene LCT, que codifica a enzima lactase. As principais variantes genéticas são:
– C/C: Homozigoto para a variante C, que é associada à intolerância à lactose.
– C/T: Heterozigoto para a variante C e T, que pode ser associada à intolerância à lactose.
– T/T: Homozigoto para a variante T, que é associada à tolerância à lactose.
Métodos de teste
Existem diferentes métodos de teste genético para a intolerância à lactose, incluindo:
– PCR (Reação em Cadeia da Polimerase): um método que amplifica o DNA para detectar a presença de variantes genéticas.
– Sequenciamento de DNA: um método que determina a sequência exata do DNA para detectar a presença de variantes genéticas.
– Testes de genotipagem: métodos que utilizam sondas de DNA para detectar a presença de variantes genéticas.
Interpretação dos resultados
Os resultados do teste genético são interpretados da seguinte forma:
– C/C: O paciente é provavelmente intolerante à lactose.
– C/T: O paciente pode ser intolerante à lactose, mas a intolerância pode ser menos severa.
– T/T: O paciente é provavelmente tolerante à lactose.
Limitações do teste
O teste genético para a intolerância à lactose tem algumas limitações, incluindo:
– Não é 100% preciso: o teste pode produzir resultados falsos negativos ou falsos positivos.
– Não é uma medida direta da intolerância à lactose: o teste apenas identifica a presença de variantes genéticas associadas à intolerância à lactose.
– Não é uma substituição para o teste de tolerância à lactose: o teste genético deve ser utilizado em conjunto com o teste de tolerância à lactose para obter um diagnóstico preciso.
Tratamento da Hipolactasia
O tratamento da intolerância à lactose visa reduzir ou eliminar os sintomas causados pela incapacidade de digerir a lactose. Aqui estão as principais estratégias de tratamento para lactentes, crianças e adultos:
Lactentes (0-12 meses)
Substituição do leite materno ou fórmula láctea por uma fórmula sem lactose: As fórmulas sem lactose são elaboradas com enzimas que quebram a lactose em glicose e galactose, tornando-a mais fácil de digerir.
Uso de suplementos de lactase: Em alguns casos, o pediatra pode recomendar o uso de suplementos de lactase para ajudar a digerir a lactose.
Monitoramento da dieta: É importante monitorar a dieta do lactente para garantir que ele esteja recebendo todos os nutrientes necessários.
Crianças (0-12 anos) e Adultos
Restrição da ingestão de lactose: Os adultos com intolerância à lactose devem limitar ou evitar a ingestão de produtos lácteos que contenham lactose.
Substituição de produtos lácteos por alternativas sem lactose: Os adultos podem substituir produtos lácteos por alternativas sem lactose, como leite de soja ou leite de amendoim.
Uso de suplementos de lactase: Em alguns casos, o médico pode recomendar o uso de suplementos de lactase para ajudar a digerir a lactose.
Monitoramento da dieta: É importante monitorar a dieta do adulto para garantir que ele esteja recebendo todos os nutrientes necessários.
Consideração de suplementos de cálcio e vitamina D: Os adultos com intolerância à lactose podem precisar de suplementos de cálcio e vitamina D para garantir que estejam recebendo os nutrientes necessários para a saúde óssea.
É importante lembrar que o tratamento da intolerância à lactose deve ser personalizado e adaptado às necessidades individuais de cada pessoa. Além disso, é fundamental consultar um profissional de saúde qualificado para obter um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado.
Conclusão
A intolerância à lactose é uma condição comum que afeta grande parte da população mundial, variando de acordo com fatores genéticos e geográficos. No Brasil, estima-se que cerca de 40% das pessoas apresentam algum grau de intolerância, enquanto em outras regiões, como Ásia e África, a prevalência pode ser ainda maior.
Embora os sintomas possam causar desconforto no dia a dia, a intolerância à lactose não representa um risco grave para a saúde na maioria dos casos. O diagnóstico pode ser feito com exames específicos, como os testes mencionados ao longo deste artigo. Já o tratamento consiste, principalmente, na adaptação da alimentação, reduzindo ou substituindo produtos lácteos e, quando necessário, utilizando suplementos de lactase.
Com o conhecimento adequado e algumas mudanças no dia a dia, é possível manter uma dieta equilibrada e nutritiva sem abrir mão do bem-estar. Se você suspeita que tem intolerância à lactose, consultar um profissional de saúde é o primeiro passo para encontrar a melhor abordagem para o seu caso.